O teorema da feira


Quando ganhei de Lívio Oliveira o seu novo “O Teorema da Feira” (2012) pensei imediatamente em seu outro: “Telha Crua” (2005). Em casa, fui ler os dois para buscar semelhanças e tentar identificar por quais caminhos passou o poeta ao longo dos sete anos que separam uma obra da outra. Qual foi minha surpresa, encontrei Lívio inteirinho, o mesmo poeta, com suas exceções, claro, mas o mesmo poeta.

Preciso explicar que fiz referência à “Telha Crua”, porque além de ter vencido dois prêmios em 2004 – Luís Carlos Guimarães e Othoniel Menezes – que conferiram sua publicação no ano seguinte, me apeguei muito a ele em outros momentos de minha vida. Porém, Lívio estreou na poesia em 2002, com “O colecionador de horas” e publicou outros dois antes do atual: “Pena Mínima” em 2007, e “Dança em seda nua” em 2009.

Votando às considerações sobre “O Teorema da Feira”, observo que Lívio se repete como experimentador da palavra, questão que, a meu ver, define o seu caminho poético. Os traços deste novo livro se liquefazem com o anterior, mas sem perder a noção do novo e do diferente. É apenas nas entrelinhas, nas intenções e na sublimação que percebemos o sujeito poético intrínseco.

O novo livro é descritivo e referencial, levando-nos a dialogar com outras obras e mitos da literatura. Também é satírico quando, por exemplo, sugere um Casanova sifilítico. Lívio bebe do poema processo e do jogo de palavras: so far/ so near; alma/ lama; etc., o que o torna um pouco dadaísta na forma de compor sua arte, porque, às vezes, temos a impressão de estarmos saltando intenções. Gosto também da veia ensaística do poema “Do mar até a palavra”, em que ele lança-nos fotografias de Natal, de suas próprias concepções sobre a literatura, sua gênese em seu intramundo, mesclando com outras referências.

Alivia-me saber que Lívio faz aquilo que lhe toca e lhe toma e não se perturba em querer ser um homem diferente em cada livro, em cada poema. Há um pouco de inocência e adolescência em alguns dos escritos deste autor que violentamente me leva ao pretérito de mim mesmo. É essa maneira leve e despretensiosa de escrever que me destina a gostar do poema Lívio com a mesma desambição.


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