Última hora, um romance de ação
O
livro de José Almeida Júnior é um clássico da nova literatura. É assim que
classifico qualquer publicação que leio cem páginas antes de dormir e paro de
ler porque está de madrugada. A narrativa cirúrgica é como um filme de ação que
faz sua pressão subir e provoca taquicardia. Impressiona a concisão das frases,
a redondeza dos parágrafos, o cuidado com os termos e a rapidez das ideias.
Ambientado
no Brasil dos anos 1950, no final do último governo de Getúlio Vargas, pouco
antes do seu suicídio (assassinato), o romance conta a história de um
jornalista com aspirações comunistas, mas que se rende aos encantos do capitalismo
e começa a trabalhar no jornal panfletário Última Hora, montado para dar
suporte ao então presidente. O leitor é encaminhado para estes momentos de
tensão e conflitos entre o governo decadente de Vargas e a ação destruidora e
tacanha da UDN, reforçada pela manipulação midiática de Carlos Lacerda.
O
clima de tensão do governo, a situação de um país frágil e de uma massa
facilmente manipulável dão o tom deste trabalho. Mas aviso, diante mão, que
qualquer semelhança com os dias atuais é mera repetição da história.
Última
Hora tem uma narrativa tradicional, em terceira pessoa, verdade. É comedido em
muitos momentos, como se as emoções e karmas do autor o impedissem de dar mais
liberdade ao narrador. Mas isso é mínimo ao que o trabalho se propõe: narrar uma
ficção dentro de um quadro de acontecimentos reais, permitindo ao leitor
acessar com muita proximidade o cenário contextual.
O
personagem central, Marcos, não é a principal pessoa do romance. Getúlio Vargas
e Carlos Lacerda se alteram como sendo motivadores da ação narrada, tendo o
protagonista e o dono do jornal Última Hora, Samuel Wainer, como fios
condutores desta ação.
É
uma ficção necessária para nossos dias, não apenas pela condição política
atual, mas para nos afastar das telas piscantes, das redes que se passam por
sociais. Aliás, depois do livro talvez seja possível até entendê-las melhor.
Usá-las com cautela e desconfiar muito das mensagens transmitidas e das
certezas geradas. Mesmo sem pretender, o livro gera essa reflexão urgente para
nossos dias.
P.S
Ao ler esta crítica o autor a compartilhou da seguinte maneira: